segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Breaking bad e DIY Bio

Demorei um pouco para começar a assistir Breaking Bad. Talvez fosse porque eu achava que estava sendo muito comentado ou por pensar que fosse ser clichê demais. Estava errada – e bem errada. Vou contar um resumão da série – sem spoilers, ok?!
Breaking Bad conta a história de um professor de química, o Walt, que descobre ter um câncer grave de pulmão. Ele resolve fazer algo para dar uma renda complementar à família e resolve montar um laboratório para produzir metanfetamina com um ex-aluno seu. E aí começam todas as aventuras.

Desde o Mundo de Beakman eu não me apaixonava pela ciência simples. Na faculdade a gente se acostuma com a ideia de que só é possível fazer experimentos em laboratórios caríssimos e de que a ciência que vemos na escola é de garagem, é muito básica e não serve para muita coisa. O Mundo de Beakman foi feito com pouquíssimos recursos e sem muita visibilidade da TV na época. Ninguém acreditava no potencial educativo que a série teve. E marcou toda a minha geração.

Com Breaking Bad pude ver um pouco desse conceito ressurgindo, o de que é possível sim fazer ciência com pouco. Não estou fazendo apologia às drogas, mas achei fantástico o fato dele montar um laboratório super simples e conseguir cristalizar uma proteína (!). Durante os episódios somos sempre lembrados sobre conceitos básicos de química – que eu já havia me esquecido – como, ligações atômicas, estrutura de moléculas e reações químicas do tipo ácido e base resulta em sal e água.

Fascinada pelo que Walt consegue fazer em seu laboratório de garagem trailer, comecei a pesquisar mais sobre o assunto. Foi então que descobri o conceito de DIY Biology, que na tradução fica algo como “Biologia faça-você-mesmo”. Os praticantes de DIY (Do It Yourself) constroem seus próprios circuitos, robôs, peças ecológicas e , agora, também organismos bioluminescentes  O movimento de DIY Bio ainda é muito pequeno no Brasil e está bastante restrito a discussões dentro das universidades, mas não é o que acontece pelo mundo afora.

Em Nova York há o GenSpace, laboratório público em que é possível participar de projetos e desenvolver seus próprios experimentos pagando uma pequena mensalidade. O espaço foi aberto ao público em 2010 e idealizado por um grupo multi-disciplinar de biólogos, artistas e engenheiros.  A doutora Ellen Jorgensen é a principal ativista no projeto. Este é o vídeo da apresentação dela no TED, em que ela fala sobre biohacking.


Em 2012 o laboratório participou do Urban Barcode Project, competição para alunos do ensino  Médio que faz parte do programa educacional DNA Learning Center, do Cold Spring Harbor Laboratory. O DNA barcode é um método que utiliza um pequeno fragmento de 700 pares de base do DNA mitocondrial para identificar e classificar os organismos de um determinado local.

O Biocurious é outro laboratório, dessa vez no Vale do Silício, que segue a mesma ideia de DIY Bio. Ele começou na garagem de uma das fundadoras, a Eri Gentry, e aqui você pode ver um vídeo em que ela conta sua própria trajetória profissional e agradece a Goldman Sachs por não tê-la contratado.



Eles conseguiram ampliar o local dos experimentos da Biocurious após conseguirem fundos pelo Kickstarter (site de crowdfunding. No Brasil o mais famoso é o Catarse). Eles também oferecem aulas à comunidade e acesso a seus laboratórios. Um dos projetos desenvolvidos por Erin é o termociclador Open PCR, uma máquina no estilo DIY desenvolvida como uma alternativa às que são utilizadas em laboratório e que fazem a amplificação dos fragmentos de DNA.

Eu bem queria conhecer  o Walt, a Ellen e a Erin. Estamos precisando de projetos DIY mais fortes no Brasil e de uma aproximação maior entre a ciência que se faz na academia e a que aprendemos no colégio. Ainda percebo que as pessoas acreditam quase que cegamente no que o cara de jaleco das universidades públicas fala nos documentários ou no diagnóstico feito por um médico. Está na hora de popularizar mais a ciência, de lembrar os tempos de Mundo de Beakman e de quando a gente tinha muitos “porquês” na cabeça.

Eu gostaria de participar de um laboratório aberto, e você? 

3 comentários:

  1. Pessoal, link para o vídeo da Erin corrigido ;)
    O youtube tinha colocado outra coisa no lugar, hehe.

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  2. Sensacional o post!
    Comecei a assistir Breaking Bad esses dias também!
    Quem sabe um dia criaremos um DIY Lab aqui no Brasil!?
    No meio de tanta burocracia e dificuldades o negócio para se chegar a resultados é fazer as coisas com as próprias mãos mesmo.
    Adorei seu blog!

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  3. Fico feliz que tenha gostado, Otto!
    Assista mais e depois conversamos sobre as reviravoltas da série, que são excepcionais.
    Eu tenho esperanças que um dia isso seja possível aqui no Brasil, pelo menos em São Paulo. Quem sabe 2013 não seja o ano?!
    Obrigada pelo elogio, mais uma vez.
    E vamos à troca de figurinhas!

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