Bacteria pode gerar eletricidade

Os esporos respondem à umidade e seu movimento pode ser usado na criação de energia elétrica.

Henrietta Lacks, imortalizada pela ciencia

Henrietta teve suas células guardadas nos anos 50. Hoje conhecidas como HeLa, são usadas em larga escala para pesquisas científicas.

Eduardo Kac (1962)

O artista carioca é pioneiro em arte com organismos vivos e/ou transgênicos. A imagem é a da coelha Alba, que brilha no escuro porque contém em seu DNA o gene que expressa a GFP.

sábado, 26 de outubro de 2013

Henrietta: uma mulher imortalizada pela ciencia


As células HeLa são amplamente utilizadas em pesquisas científicas desde os anos 50; somente em 2013 os herdeiros Lacks ganham o direito sobre os dados genéticos de sua própria família

Um breve histórico

Henrietta Lacks tinha apenas 31 anos quando sofreu de um grave câncer cervical. Os médicos do hospital Johns Hopkins, localizado em Baltimore nos Estados Unidos, retiraram uma amostra do tecido de Lacks e enviaram ao pesquisador George Gey. George estava tentando cultivar tecidos humanos, sem êxito. Ao se deparar com as células de Henrietta, chamadas posteriormente de HeLa (pronuncia-se “ri-la”), ele notou que elas tinham um ótimo crescimento e se duplicavam a cada 24 horas. Henrietta, no entanto, não consentiu em participar de tais experimentos.

A história ficou conhecida mundialmente através do livro publicado por Rebecca Skloot em 2010, “A vida imortal de Henrietta Lacks”. A escritora relata o drama vivido pelos herdeiros de Henrietta, que são de origem humilde e nunca tiveram acesso aos lucros obtidos com as vendas de HeLa. E este livro foi decisivo para as discussões mundiais sobre a ética no uso de células humanas em pesquisas.

Em 2013, a publicação do artigo contendo informações sobre o genoma das células HeLa gerou um clima de revolta entre pesquisadores e a família Lacks. Os herdeiros ficaram preocupados com o tipo de informação que o estudo iria revelar sobre o histórico de doenças que eles poderiam ter.

Após alguns meses de discussão, o National Institutes of Health (NIH) fez um acordo com os Lacks. Este acordo prevê que o acesso à sequência completa do genoma das células HeLa seja controlado e confere à família o poder de mapear os trabalhos que estiverem sendo feitos sobre o assunto. Assim, o pesquisador que precisar do banco de dados deverá pedir autorização para o NIH e para os herdeiros de Henrietta. A família, no entanto, continua a não receber nenhum lucro sobre as vendas de HeLa.

A pesquisa científica e as regulamentações

            O aumento no número de pesquisas com o DNA humano impulsionou as discussões éticas sobre a utilização dos dados genéticos obtidos. A história de Henrietta tem sido de grande importância para a regulamentação deste segmento de pesquisa, inclusive no Brasil. O nosso país conta hoje com três grandes órgãos que regulam as pesquisas científicas envolvendo seres humanos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a resolução nº 9 em 2011, que contém regras para o funcionamento dos Centros de Tecnologia Celular (CTC). Estes Centros são responsáveis pelo fornecimento de células humanas e seus derivados para pesquisa clínica e terapia.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) presta auxílio técnico desde 2005 para as regulamentações envolvendo a segurança na manipulação de organismos geneticamente modificados, conhecidos também pela sigla OGM.

O pesquisador da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA - Unicamp), Fernando Simabuco, explica um pouco sobre as regras do Manual de Biossegurança:

“A linhagem [celular] é classificada com um nível de biossegurança de acordo com o risco da modificação genética. O descarte também depende dessa classificação. Linhagens celulares sem modificações genéticas são descartadas em hipoclorito 10%.”

No caso de linhagens celulares de nível de biossegurança 2 (contém patógenos que oferecem risco moderado para a comunidade), Fernando aponta que elas devem ser descontaminadas com hipoclorito e autoclavadas antes do descarte.

Por fim, o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) avalia os aspectos éticos nas pesquisas que envolvem seres humanos. A resolução 466 ,publicada em dezembro de 2012, prevê ações que asseguram a confidencialidade e a privacidade dos participantes da pesquisa. Este documento teve como uma de suas bases a Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos.

Conheça a HeLa!

As células HeLa têm sido amplamente utilizadas em pesquisas científicas nos últimos 50 anos. Jonas Salk pode desenvolver a vacina da pólio com células HeLa. Ela esteve presente também em pesquisas sobre câncer, efeitos da radiação e substâncias tóxicas, AIDS, e mapeamento genético.

a) células HeLa coradas pela técnica de imunofluorescência, vistas em um microscópio de fluorescência. Em verde está uma proteína do citoplasma da célula e, em azul, o núcleo. Fonte: Germanna Righetto, Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).
b) células HeLa vistas através de um microscópio óptico. Fonte: Germanna Righetto, Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).

A doutoranda em proteômica pela Unicamp, Annelize Aragão, conta que elas foram a primeira de uma linhagem de células chamadas imortais. As células imortais são aquelas capazes de se manter em constante divisão. Isso acontece devido a técnicas de engenharia genética que alteram o processo de morte celular. As células imortais tem origem nas linhagens primárias, que são retiradas diretamente de um paciente ou doador.

Para adquirir um frasco de HeLa, é possível comprá-lo através de sites como o ATCC por cerca de U$400, pegar uma amostra emprestada de um colega pesquisador ou buscá-lo em um banco de células. O biólogo e curador do Banco de Células do Rio de Janeiro, Antônio Monteiro, explica um pouco sobre este centro:

“O Banco de Células do Rio de Janeiro é a única coleção de células humanas e animais prestadora de serviço do Brasil e é a maior da América do Sul, não só em acervo mas também na prestação de serviços. Temos cerca de 400 células, sendo que aproximadamente 30% são de origem humana. O custo do serviço prestado de descongelamento e manutenção das células é de 840 reais.”

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O início do #blogciencia

Diante de algumas limitações de tempo que tenho enfrentado nos últimos meses – e que tem feito as postagens aqui do Polimerase diminuírem drasticamente -, queria saber se os veteranos tinham alguma estratégia para blogar mais regularmente.

E foi com essa pergunta que se originou uma grande discussão entre os blogueiros de ciência no Brasil, que aconteceu mais fervorosamente durante a primeira semana de outubro.

Listei os principais motivos levantados para a redução em massa de postagens através dos comentários via Facebook, tweets e blogs.

1) falta de tempo, devido à realização de atividades profissionais em paralelo;
2) a não remuneração, que leva os autores a darem prioridade a atividades que deem algum retorno financeiro;
3) o modelo de blogs que seguem o ritmo de publicação da grande mídia, republicando notícias que já foram dadas ou acrescentando pouco ao que já se sabia;
4) desestímulo gerado a partir do leitor, que não se posiciona criticamente acerca dos textos publicados e, muitas vezes, se interessa essencialmente por ciência sensacionalista,
5) o desinteresse pela leitura aliado ao surgimento de novas mídias e redes sociais.

Considerações

A reportagem da Pesquisa Fapesp Conexão digital apresenta um panorama da situação dos blogueiros no Brasil e no mundo. Eles citam a existência de cerca de 210 blogs brasileiros que falam sobre ciência. Essa estimativa foi feita principalmente através do cruzamento entre dados do Google e do site Anel de Blogs Científicos. Dentre esses blogs, nota-se uma queda no ritmo de postagens, como já citado pelo Roberto Takata, mas também ressalto que alguns deles parecem ter sido simplesmente abandonados pelo seu autor.

Como uma nova tentativa de reunir as postagens em ciência, Rubens Pazza criou o Bolsão de Blogs (ainda em fase de testes!). A ideia surgiu através das discussões que aconteceram no início de outubro através da #blogciencia. Deixo um agradecimento também ao Filipe Saraiva por ter sugerido a criação de um planet que reunisse todas as postagens sobre o tema.

Vejo este como um resultado importante para os autores e leitores de ciência no Brasil. A concentração das postagens em um feed facilita a visualização do que está sendo discutido pelos autores e tamb´m a escolha de um tema para leitura. Ainda estamos longe de ter um coletivo de blogs como o SciAm, mas os esforços de anos dos blogueiros do Science Blogs Brasil e as novidades trazidas pelo Bolsão de Blogs nos trazem uma boa dose de otimismo.

Sendo assim, não acredito que o Science Blogs tenha inibido a proliferação de novos blogs de ciência no Brasil, como estava pensando inicialmente o Carlos Hotta. Enxergo nos coletivos uma oportunidade para conhecer pessoas que gostem dos mesmos assuntos e que tenham motivações em comum (em blogar sobre ciência, por que não?). Assim, creio que o Science Blogs teve muito a acrescentar nas publicações independentes sobre ciência no Brasil.

Sobre as mídias sociais, elas estão aí para enriquecer as discussões publicadas nos blogs. O Facebook e Twitter foram essenciais para que pudéssemos nos comunicar durante as conversas sobre o #blogciencia. E podem continuar sendo úteis para as ideias que estão por vir!

Por fim, mas não menos importantes, estão os trabalhos de divulgação científica com podcasts (como o do Dragões de Garagem e Rock com Ciência), vídeos (Manual do Mundo e Além da Bio) e até mesmo piadas (Piadas Nerds). Acredito que esses divulgadores tenham ótimas ferramentas em mãos para atingir um público maior – e que talvez nunca tenha se interessado em ler os blogs.

Aos que ainda se interessam, continuo a minha jornada. Vou escrevendo, até que eu aprenda a fazer uma animação ou figura no paint!

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Seguem os links de todo mundo que contribuiu com a sua opinião <3

Há uma crise nos blogs brazucas de ciência?














Updeite em 12/12/2012 --> Essa semana comecei a fuçar no Storify e tentei agregar os principais links e tweets que rolaram durante a discussão!
http://storify.com/marifiora/blogciencia

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Pelo direito de protesto

"O seu comportamento foi inadequado. Você teve uma atitude anarquista.", comentário em resposta ao meu questionamento sobre a liberdade de acesso à rede wi-fi.

"Mas você pediu isso por que estava pensando em acessar o Facebook  o dia todo?", foi uma das perguntas subsequentes.

Fui chamada de anarquista. Assim, gratuitamente. E não, não quebrei janelas, muito menos invadi o prédio da prefeitura em São Paulo. Só pedi o acesso ao ponto da rede wi-fi.

Claramente uma confusão de significados aliada a uma má interpretação dos fatos - e que tem gerado ótimas discussões.

Em meio ao clima de revolta geral do Brasil, resolvi contar um pouco da minha experiência com os protestos - e com o meu novo errôneo rótulo de anarquista.

É fato que a comunicação hoje é altamente permeada pelas redes sociais. Sempre preferi o Twitter ao Facebook. Pela rapidez e porque as cordialidades do "curtir" dão lugar à voz daqueles que xingam e acham tudo uma puta falta de sacanagem.

E estas mesmas pessoas fizeram uma revolução esta semana. 

A #whitemonday ficou marcada na história. Os manifestantes mudaram seus status de "deitado eternamente em berço esplêndido" para "um filho teu não foge à luta". 

Em meio à passeata de segunda, não me senti deslocada. Festa de faculdade, evento de anime ou show de rock. Todas essas definições se encaixam. Aquelas pessoas eram familiares, pareciam todas frequentar os mesmos lugares que eu. E estavam lá levantando cartazes e entoando gritos de guerra. Sem partido, só reivindicando um futuro melhor.

"Desculpem o transtorno: estamos mudando um país"
O cartaz foi citado no discurso da presidenta Dilma. Ela também foi assunto dos protestos, mas de um modo não tão amigável assim...

Os manifestantes bem humorados tomaram conta das avenidas. Vestidos de super herois ou segurando cartazes como "The Alckmin dead", a geração Coca-Cola saiu às ruas para pedir ajuda ao Goku. Porque talvez a ajuda de um saiyajin seja mais bem vinda do que a dos políticos do Brasil.

E este é o reflexo de uma geração colaborativa, que cresceu tendo como ídolos os personagens de Stan Lee. Aparentemente sem causa, as caminhadas abrigavam todos que queriam se juntar a ela. 

Indo da Consolação à Faria Lima, as dores no corpo me trouxeram o alívio de fazer parte de uma onda de mudanças. A redução da tarifa foi uma das conquistas, em São Paulo e em diversas outras cidades do estado. 

Mas não devemos parar por aqui, pois ainda há muito para ser mudado. Inclusive a mentalidade de que as redes sociais são uma perda de tempo.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

#SciFund challenge e a experiencia tupiniquim

Certamente as próximas semanas serão de trabalho intenso e de grande atividade aqui no Polimerase.

Eu fui selecionada para participar do primeiro treinamento de divulgação científica organizado pelo #SciFund Challenge. O site é dedicado a ajudar cientistas a financiarem seus projetos ou alguma parte deles através de crowdfunding.

Soube do curso através do Twitter (que pode ser bem mais útil do que acompanhar as últimas notícias sobre o ataque de bombas em Boston) e ele estava planejado para ter 50 estudantes. No entanto, a procura foi maior do que isso e as inscrições foram encerradas antecipadamente com 171 inscritos do mundo todo


Eu sou a única brasileira da turma (yey!) e vou escrever por aqui um resumo das nossas discussões pelo Twitter (usaremos #SciFund e a lista SciFund outreachers!), Google+ (faremos alguns hangouts por lá, mas eu confesso que ainda não sei muito bem como utilizar essa rede social...) e e-mails.

O curso foi criado para ajudar cientistas que querem fazer divulgação do seu trabalho, mas não sabem muito bem como começar. Serão trabalhados três pontos importantes: a falta de conhecimento em divulgação, a falta de experiência nessa tarefa e a comunidade que não apoia tais iniciativas.


Cada semana será voltada para uma tarefa, sendo que a terceira envolverá atividades com blogs. Quem quiser conferir a ementa completa é só acessar este link.

Nem preciso dizer que estou super ansiosa para que segunda, dia 29, chegue logo e eu possa saber mais sobre o curso, os participantes e tudo mais.

Esperem por novidades ;)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Seria o 666 um polimero?!

Um olá aos leitores do Polimerase!

Não, este (ainda) não é o post sobre os trabalhos do Eduardo Kac. Nem do Charlie Harper. Estes ainda estão em fase de pré-produção.

As três semanas de ausência não foram ao acaso.
Posts precisam ter muito mais do que um texto bem escrito, uma figura engraçada ou o assunto do momento (é, perdi o dia da mentira e o frenesi acerca da clonagem do primeiro mamute, causado pelo pessoal do Colecionadores de Ossos). Acho que às vezes é preciso expressar um pouco mais sobre seus sentimentos (digo um pouco mais porque não acredito que exista algum texto em que o autor não expresse seus sentimentos, seja mais direta ou indiretamente). Mas isso é só a minha cabeça.

E eu estou numa fase mais artística, com vontade de deixar todo texto com cara de história, de criar figuras (mesmo sem saber desenhar muito bem) e planejar que doce vou fazer para a festa do meu primo. Isso sem contar as horas jogando Just Dance 4 (descobri minha aptidão para isso nos controles de Wii!), as outras tantas tentando desvendar os crimes em Phoenix Wright e os inúmeros textos que tenho lido sobre como e porque escrever.


Por isso, deixo vocês com uma poesia + explicação que fiz pensando no nome do blog (sim!!! o nome não veio de um saquinho mágico aleatório!!!), caso alguém já tenha pensado nisso além do Átila Iamarino.

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Mesa (ê) sf (lat mensa) 1 Móvel que, além de outras aplicações, serve para sobre ele se porem as iguarias, na ocasião da refeição, e se executarem ou prepararem certos trabalhos artísticos ou mecânicos. Michaelis 
Polimerase é uma enzima que catalisa a reação de polimerização de ácidos nucleicos a partir dos seus monômerosWikipedia



"O polímero é um mero polimerizado unido ao próximo pelo braço direito.
É um prato que se põe à mesa e está lá para ser degustado,

apreciado pelos que tem sentidos.

Compartilhado pelos ouvidos.
O assunto é igual, mas diferente.
Tem de tudo um pouco.
Talvez até o seu DNA esteja lá, basta olhar.

E se estiver junto, fica.

Com o braço direito colado, esperando a porta abrir.

E lá se vem a polimerase."
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Por fim, um ode às coincidências (?) do 666 e um super obrigada aos 666 page views nestes quase dois meses de blog!!!



seria 666 um polímero na minha vida?! 


segunda-feira, 18 de março de 2013

O radio toca - especial Marie Curie

Olá a todos!

Polimerase voltando à ativa nesta semana pós Saint Patrick's day e com tempo tipicamente irlandês aqui em São Paulo!

Para quebrar um pouco a série sobre o Eduardo Kac (ainda vou fazer mais dois posts sobre ele), vou falar um pouco sobre a Madame Curie. 
Mas nada de biografias por aqui, vamos com um pouco de literatura!






Há algum tempo ouvi a história de uma garotinha que morava lá na Polônia. O nome dela ninguém sabia. Ela era a caçula e tinha mais quatro irmãos. Seus pais sempre priorizaram o estudo de seus filhos. A mãe, pianista, ensinava música. O pai, professor, ensinava sobre física e matemática. A menina, no entanto, não gostava muito de tocar, ela preferia mesmo ouvir seu pai falando sobre o céu, terra, universo e os números. 

Ela foi crescendo, crescendo e seu gosto pela descoberta foi aumentando. Se formou na escola e foi fazer faculdade na França, na melhor universidade do país. Seus pais sempre diziam “vá, minha filha. Você ainda vai ser importante um dia.”

A menina seguiu o caminho do pai. Primeiro ela fez Física. Depois, Matemática. Começou a trabalhar com imãs e estava atraída pela pesquisa... E não só pela pesquisa, por um moço também. O nome dele? Ah sim, Pierre. Eles tinham se conhecido no ano anterior, em um café. Ele também era físico. Em pouco tempo se casaram. Acho que foi uma paixão pra lá de magnética (!)

Eles tiveram então uma bela menina, Irene. Mas a moça não queria parar de estudar. Pierre a incentivou a voltar para a pesquisa. Um amigo deles, Henri, havia descoberto um material fascinante. Esse material brilhava sozinho como uma estrela e tinha cores muito vibrantes, algo como ela nunca tinha visto nos ímãs! 

Henri estava estudando o urânio... Esse mesmo, usado para fazer bombas atômicas hoje em dia... A moça, quando viu aquilo pensou: “como são radiantes esses materiais! Vou chamá-los de radioativos então, o que acham?” O marido e o amigo aprovaram a ideia.

A moça decidiu estudar o que fazia aquele material ser tão radiante. Foi à fundo. Estudou o urânio e descobriu que não era só ele que tinha aquele brilho. Havia mais dois! Um de cor azul e o outro prateado. Ela conversou com Pierre e pensaram em nomes... Brilhantônio, Pierrônio...não, não estava bom. “Que tal Polônio e Rádio?”, ela sugeriu. “Assim posso lembrar do meu país e das notícias que sempre escuto de lá...”. Pierre estava ansioso e logo avisou seu amigo Henri. Foram tomar um café juntos para comemorar.

No ano seguinte, os três ganharam um prêmio pelo rádio. Não era pelo rádio das novelas, era pela radioatividade que haviam descoberto. Ficaram tão felizes! Ela e Pierre foram comemorar. Agora seu laboratório teria de ser reformado! Havia goteiras por todos os lados e eles manipulavam tudo com as mãos... Teriam também dinheiro para cuidar no novo bebê. Eva iria nascer em breve!

Quantas alegrias! Pena que duraram pouco... 

Pierre estava indo ao laboratório. Estava atravessando e.... fora atropelado por uma charrete. Ah, como a moça chorou... Por dias, semanas... Quem havia de ser seu companheiro agora?

Continuou os seus estudos, mais focada do que nunca. Assumiu a cadeira de professora de física que antes era de Pierre. Foi a primeira mulher a ser professora na Universidade. Alguns anos depois, ganhou outro prêmio! Dessa vez por causa dos seus queridos Polônio e Rádio.

Suas filhas já estavam grandes e começaram a ajudar a mãe. Não no laboratório, mas começaram a divulgar as ideias dela. Um médico soube que o rádio podia ser usado para ver os ossos dos pacientes. Pediu que a moça o ajudasse a tratar os doentes.

Aperfeiçoaram aquela técnica e um amigo que fotografava os ajudou... Criaram então o raio-X, tão usado hoje em dia.

Depois de tantos anos na pesquisa, a nossa querida cientista adoeceu. Ficou fraca, já não tinha mais forças para trabalhar. Disseram pra mim que ela tinha leucemia, aquela doença no sangue. O seu rádio não brilhava e nem tocava mais. 

Mas a moça pesquisadora mãe filha esposa tinha um nome. Alguém sabe o nome dela? Era conhecida como Marie. Curie era o seu sobrenome, o mesmo de Pierre. E ela sempre dizia às suas filhas: “Um cientista não é só um técnico. É também uma criança que se impressiona com a natureza como nos contos de fada.”

E eu nunca acreditei que o rádio da Marie tivesse parado de tocar...

Escrevi este texto quando fiz o curso de contação de histórias no Senac, no final de 2011, depois de pesquisar bastante sobre a Marie no google e ter um pouco de inspiração.Hope u like it  :)

quinta-feira, 7 de março de 2013

Alba, a coelha (E)GFP


A proteína GFP (green fluorescent protein) é uma velha conhecida dos biólogos. Em 1994 ela foi isolada pela primeira vez da água-viva Aequoria victoria, animal que apresenta propriedades bioluminiscentes. Quase 20 anos depois da descoberta, a GFP é largamente utilizada como um marcador para determinar a expressão de genes em nível celular. Em 2008 os cientistas envolvidos no estudo ganharam o Prêmio Nobel de Química.

Nada mais justo.

Abaixo coloquei uma figura que ilustra uma aplicação desta técnica no estudo da expressão da proteína RAS em bichos-da-seda. Neste caso, a GFP foi fusionada com os três tipos de proteína RAS encontradas e as partes em verde indicam em quais pontos da célula houve a expressão de RAS.

A - controle para expressão de GFP. B,C,D - expressão das variantes da proteína RAS que foram fusionadas a GFP

Você deve estar se perguntando: tá, e o que tem a ver a coelha com a água-viva?! Tudo, oras!

O Eduardo utilizou essas informações para criar a Alba, em parceria com a pesquisadora  Louis-Marie Houdebine, do National Institute of Agronomic Research na França. Isso tudo aconteceu no ano de 2000.

A foto acima é a única disponível na internet
O artista explica em seu site alguns aspectos sobre a sua “obra”. Eduardo diz que a coelha é albina - e, portanto, não apresenta pigmentos na pele – e que só brilha quando iluminada com a luz certa - neste caso é uma luz azul com comprimento de onda de no máximo 488nm. Ele também fala que utilizou uma forma melhorada da GFP, a EGFP, pois a última apresenta melhor fluorescência do que a proteína do tipo nativo.

Foi então que a discussão ética se iniciou. Eduardo nunca pode retirar a coelha do laboratório e expô-la ao público, muito menos realizar ser sonho de levá-la para casa e tê-la como seu pet.

Nesta reportagem da Wired, publicada em 2002, a morte de Alba é anunciada e segue a declaração de Houdebine sobre o ocorrido:

"I was informed one day that bunny was dead without any reason. So, rabbits die often. It was about 4 years old, which is a normal lifespan in our facilities." (Um dia fui informada que a coelha tinha morrido por nenhuma causa aparente. Coelhos morrem frequentemente. Ela tinha quatro anos, que é uma expectativa de vida normal em nossos laboratórios.)

Quem sabe matemática básica percebe a incoerência dos fatos. Se Alba nasceu em 2000, como ela tinha quatro anos em 2002? E eis outra polêmica.

Kac alega na reportagem que havia um acordo entre ele e a pesquisadora que permitia a retirada da coelha dos laboratórios. Culpa do diretor do Instituto que não deixou, segundo Houdebine.

A reportagem também discute a veracidade das fotos tiradas por Kac. Para o pesquisador ReinhardNestelbacher, seria impossível obter aquela imagem, uma vez que o GFP só se expressa na pele – e não nos pelos, como sugerido pela foto. Eduardo explica que utilizou uma luz especial para a foto de Alba – e que a foto é sim verdadeira.

Em outras fotos disponíveis nesta página da National Geographic “Glowing Animals: Beasts Shining for Science” (o título em si já é uma discussão ao tema!!!) é possível ver animais que contém GFP e que exibem a fluorescência em áreas onde o pelo é curto ou inexistente. Ponto para Nestelbacher.

macaco Rhesus
camundonguinhos glow-in-the-dark

O fato é que nunca saberemos as respostas a essas dúvidas sobre Alba. O que está ao nosso alcance é fazer uma reflexão sobre as implicações éticas e morais de pesquisas que envolvem manipulação de seres vivos. Não entendo muito bem porque pouco se comenta quando uma placa de Petri contém bactérias fluorescentes, mas há toda uma mobilização social quando um camundongo glow-in-the-dark aparece na TV.

Eu não acharia ruim ter um animal fluorescente em casa. Embora de origem sintética, as camisetas, chinelos e afins já estão aí. Só falta um toque de GFP para elas ganharem mais vida.

Continuo com o Genesis, na semana que vem. 

Deixo vocês com um trecho escrito por Kac – e que traduzi para o blog - ,disponível em inglês neste endereço.

 “[...] A arte pode ser também de grande valor social. Como o domínio da arte é simbólico – mesmo quando intervém diretamente em um dado contexto -, a arte pode contribuir para revelar as implicações culturais da revolução que está por vir e oferece diversas maneiras de pensar sobre e com a biotecnologia. [...] A arte transgênica pode ajudar a ciência a reconhecer o papel de questões sobre a relação e comunicação no desenvolvimento de organismos. Pode ajudar a cultura ao desmascarar o credo popular de que o DNA é a ‘molécula chave’ que influencia o organismo como um todo e ambiente (contexto). Por último, a arte transgênica pode contribuir no campo da estética ao abrir novas dimensões pragmáticas e simbólicas da arte como a criação literal e tendo reponsabilidade pela vida.”

quarta-feira, 6 de março de 2013

Eduardo Kac e sua bioarte


Esse tweet me apresentou o artista. Não só as principais obras, mas uma pessoa com ideias e atitudes que revolucionam.

Nascido no Rio de Janeiro em 1962, se formou bacharel em artes plásticas pela PUC/RJ e fez mestrado em fine arts na The School of the ArtInstitute of Chicago, onde atua como professorassociado.

Seu trabalho envolve arte transgênica, hologramas e poemas, tudo isso com um toque bastante peculiar de polêmica e de reflexões acerca do futuro (e presente) da bioengenharia, engenharia genética e áreas afins.

Aqui segue um vídeo com uma história sobre ele, feito pelo Itaú Cultural.


Vou apresentar três das obras que me chamaram mais atenção, pela criatividade e potencial transformador. Resolvi escrever em três posts, para não termos conteúdo demais em nenhum deles – e apreciarmos a essência das obras.

O primeiro vai ser sobre a coelha Alba, que publico logo em seguida a esta apresentação sobre o Eduardo. O segundo será sobre o poema Genesis, em que ele inseriu um trecho da Bíblia no código genético (!) e o terceiro será sobre a Eudunia, um híbrido de planta (petúnia) e animal (o Eduardo!).

As referências das leituras se encontram nos links ao longo dos textos.

Espero que gostem e boa leitura!

segunda-feira, 4 de março de 2013

O alcance dos blogs de ciência - via Blog do Bruno de Pierro

Olá pessoas!

Estamos começando mais um mês e com ele vieram boas notícias :)


Hoje eu estava lendo o post do Blog do Bruno de Pierro, que fala sobre ciência,dados abertos e colaborativismo e resolvi fazer um comentário acerca do texto. O Bruno é irmão da minha amiga, estudamos todos na mesma escola e hoje ele é editor-assistente de Política Científica e Tecnológica da revista Pesquisa FAPESP e mestrando no LabJor.


E eis que o meu comentário foi elevado ao post O alcance dos blogs de ciência!


Abaixo vocês podem ler o comentário na íntegra:


Oi Bruno!


Gostei bastante do seu post, inclusive suas inquietações são algumas minhas também. Vou gostar de acompanhar sua pesquisa de mestrado para ver aonde chegamos nessa dicotomia jornalismo X cientista - se é que chegamos a algum lugar... Eu escrevi um texto recentemente falando sobrecrowdfunding e ciência colaborativa em laboratórios abertos, e penso que o seu texto apresenta um entrave à instalação desses lugares aqui no Brasil.


Ainda pensamos que o "correto" é o que vem dos grande veículos de imprensa e não de um blog sobre o assunto, ou mesmo de uma revista que tenha menos acessos. O valor dado a cada uma das produções não é o mesmo. Compartilhando uma pesquisa rápida que fiz esses dias, olhando número de seguidores no twitter e likes pelo Facebook. Aqui vai a lista, com números simplificados:

Super Interessante: 830 mil follows (twitter), 613 mil "curtir" (facebook) 

Revista Galileu: 70 mil follows (twitter), 100 mil "curtir" (facebook) 
Revista Ciência Hoje: 36 mil follows (twitter), 22,3 mil "curtir" (facebook)
Science Blogs Br: 5,1 mil follows (twitter), 36,5 mil "curtir" (facebook) 

Os números nos ajudam, de alguma forma, a tentar compreender o perfil de quem lê ciência por aqui e a pensar uma forma de divulgar conteúdo que realmente seja interessante e faça alguma diferença. E que os comentários relevantes sempre existam nos blogs!


O meu blog é polimerasedemesa.blogspot.com.br e foi criado na semana passada. 

Até!
Fiora

Pois é. Uma prova do poder de interação dos blogs - mesmo que esse recurso ainda não seja muito utilizado. Aos blogueiros: nunca subestimem o poder de alcance do texto de vocês. O Polimerase tem só uma semana e já estou recebendo bons feedbacks.


Até breve - e continuem a discussão!


Mariana