Bacteria pode gerar eletricidade

Os esporos respondem à umidade e seu movimento pode ser usado na criação de energia elétrica.

Henrietta Lacks, imortalizada pela ciencia

Henrietta teve suas células guardadas nos anos 50. Hoje conhecidas como HeLa, são usadas em larga escala para pesquisas científicas.

Eduardo Kac (1962)

O artista carioca é pioneiro em arte com organismos vivos e/ou transgênicos. A imagem é a da coelha Alba, que brilha no escuro porque contém em seu DNA o gene que expressa a GFP.

segunda-feira, 18 de março de 2013

O radio toca - especial Marie Curie

Olá a todos!

Polimerase voltando à ativa nesta semana pós Saint Patrick's day e com tempo tipicamente irlandês aqui em São Paulo!

Para quebrar um pouco a série sobre o Eduardo Kac (ainda vou fazer mais dois posts sobre ele), vou falar um pouco sobre a Madame Curie. 
Mas nada de biografias por aqui, vamos com um pouco de literatura!






Há algum tempo ouvi a história de uma garotinha que morava lá na Polônia. O nome dela ninguém sabia. Ela era a caçula e tinha mais quatro irmãos. Seus pais sempre priorizaram o estudo de seus filhos. A mãe, pianista, ensinava música. O pai, professor, ensinava sobre física e matemática. A menina, no entanto, não gostava muito de tocar, ela preferia mesmo ouvir seu pai falando sobre o céu, terra, universo e os números. 

Ela foi crescendo, crescendo e seu gosto pela descoberta foi aumentando. Se formou na escola e foi fazer faculdade na França, na melhor universidade do país. Seus pais sempre diziam “vá, minha filha. Você ainda vai ser importante um dia.”

A menina seguiu o caminho do pai. Primeiro ela fez Física. Depois, Matemática. Começou a trabalhar com imãs e estava atraída pela pesquisa... E não só pela pesquisa, por um moço também. O nome dele? Ah sim, Pierre. Eles tinham se conhecido no ano anterior, em um café. Ele também era físico. Em pouco tempo se casaram. Acho que foi uma paixão pra lá de magnética (!)

Eles tiveram então uma bela menina, Irene. Mas a moça não queria parar de estudar. Pierre a incentivou a voltar para a pesquisa. Um amigo deles, Henri, havia descoberto um material fascinante. Esse material brilhava sozinho como uma estrela e tinha cores muito vibrantes, algo como ela nunca tinha visto nos ímãs! 

Henri estava estudando o urânio... Esse mesmo, usado para fazer bombas atômicas hoje em dia... A moça, quando viu aquilo pensou: “como são radiantes esses materiais! Vou chamá-los de radioativos então, o que acham?” O marido e o amigo aprovaram a ideia.

A moça decidiu estudar o que fazia aquele material ser tão radiante. Foi à fundo. Estudou o urânio e descobriu que não era só ele que tinha aquele brilho. Havia mais dois! Um de cor azul e o outro prateado. Ela conversou com Pierre e pensaram em nomes... Brilhantônio, Pierrônio...não, não estava bom. “Que tal Polônio e Rádio?”, ela sugeriu. “Assim posso lembrar do meu país e das notícias que sempre escuto de lá...”. Pierre estava ansioso e logo avisou seu amigo Henri. Foram tomar um café juntos para comemorar.

No ano seguinte, os três ganharam um prêmio pelo rádio. Não era pelo rádio das novelas, era pela radioatividade que haviam descoberto. Ficaram tão felizes! Ela e Pierre foram comemorar. Agora seu laboratório teria de ser reformado! Havia goteiras por todos os lados e eles manipulavam tudo com as mãos... Teriam também dinheiro para cuidar no novo bebê. Eva iria nascer em breve!

Quantas alegrias! Pena que duraram pouco... 

Pierre estava indo ao laboratório. Estava atravessando e.... fora atropelado por uma charrete. Ah, como a moça chorou... Por dias, semanas... Quem havia de ser seu companheiro agora?

Continuou os seus estudos, mais focada do que nunca. Assumiu a cadeira de professora de física que antes era de Pierre. Foi a primeira mulher a ser professora na Universidade. Alguns anos depois, ganhou outro prêmio! Dessa vez por causa dos seus queridos Polônio e Rádio.

Suas filhas já estavam grandes e começaram a ajudar a mãe. Não no laboratório, mas começaram a divulgar as ideias dela. Um médico soube que o rádio podia ser usado para ver os ossos dos pacientes. Pediu que a moça o ajudasse a tratar os doentes.

Aperfeiçoaram aquela técnica e um amigo que fotografava os ajudou... Criaram então o raio-X, tão usado hoje em dia.

Depois de tantos anos na pesquisa, a nossa querida cientista adoeceu. Ficou fraca, já não tinha mais forças para trabalhar. Disseram pra mim que ela tinha leucemia, aquela doença no sangue. O seu rádio não brilhava e nem tocava mais. 

Mas a moça pesquisadora mãe filha esposa tinha um nome. Alguém sabe o nome dela? Era conhecida como Marie. Curie era o seu sobrenome, o mesmo de Pierre. E ela sempre dizia às suas filhas: “Um cientista não é só um técnico. É também uma criança que se impressiona com a natureza como nos contos de fada.”

E eu nunca acreditei que o rádio da Marie tivesse parado de tocar...

Escrevi este texto quando fiz o curso de contação de histórias no Senac, no final de 2011, depois de pesquisar bastante sobre a Marie no google e ter um pouco de inspiração.Hope u like it  :)

quinta-feira, 7 de março de 2013

Alba, a coelha (E)GFP


A proteína GFP (green fluorescent protein) é uma velha conhecida dos biólogos. Em 1994 ela foi isolada pela primeira vez da água-viva Aequoria victoria, animal que apresenta propriedades bioluminiscentes. Quase 20 anos depois da descoberta, a GFP é largamente utilizada como um marcador para determinar a expressão de genes em nível celular. Em 2008 os cientistas envolvidos no estudo ganharam o Prêmio Nobel de Química.

Nada mais justo.

Abaixo coloquei uma figura que ilustra uma aplicação desta técnica no estudo da expressão da proteína RAS em bichos-da-seda. Neste caso, a GFP foi fusionada com os três tipos de proteína RAS encontradas e as partes em verde indicam em quais pontos da célula houve a expressão de RAS.

A - controle para expressão de GFP. B,C,D - expressão das variantes da proteína RAS que foram fusionadas a GFP

Você deve estar se perguntando: tá, e o que tem a ver a coelha com a água-viva?! Tudo, oras!

O Eduardo utilizou essas informações para criar a Alba, em parceria com a pesquisadora  Louis-Marie Houdebine, do National Institute of Agronomic Research na França. Isso tudo aconteceu no ano de 2000.

A foto acima é a única disponível na internet
O artista explica em seu site alguns aspectos sobre a sua “obra”. Eduardo diz que a coelha é albina - e, portanto, não apresenta pigmentos na pele – e que só brilha quando iluminada com a luz certa - neste caso é uma luz azul com comprimento de onda de no máximo 488nm. Ele também fala que utilizou uma forma melhorada da GFP, a EGFP, pois a última apresenta melhor fluorescência do que a proteína do tipo nativo.

Foi então que a discussão ética se iniciou. Eduardo nunca pode retirar a coelha do laboratório e expô-la ao público, muito menos realizar ser sonho de levá-la para casa e tê-la como seu pet.

Nesta reportagem da Wired, publicada em 2002, a morte de Alba é anunciada e segue a declaração de Houdebine sobre o ocorrido:

"I was informed one day that bunny was dead without any reason. So, rabbits die often. It was about 4 years old, which is a normal lifespan in our facilities." (Um dia fui informada que a coelha tinha morrido por nenhuma causa aparente. Coelhos morrem frequentemente. Ela tinha quatro anos, que é uma expectativa de vida normal em nossos laboratórios.)

Quem sabe matemática básica percebe a incoerência dos fatos. Se Alba nasceu em 2000, como ela tinha quatro anos em 2002? E eis outra polêmica.

Kac alega na reportagem que havia um acordo entre ele e a pesquisadora que permitia a retirada da coelha dos laboratórios. Culpa do diretor do Instituto que não deixou, segundo Houdebine.

A reportagem também discute a veracidade das fotos tiradas por Kac. Para o pesquisador ReinhardNestelbacher, seria impossível obter aquela imagem, uma vez que o GFP só se expressa na pele – e não nos pelos, como sugerido pela foto. Eduardo explica que utilizou uma luz especial para a foto de Alba – e que a foto é sim verdadeira.

Em outras fotos disponíveis nesta página da National Geographic “Glowing Animals: Beasts Shining for Science” (o título em si já é uma discussão ao tema!!!) é possível ver animais que contém GFP e que exibem a fluorescência em áreas onde o pelo é curto ou inexistente. Ponto para Nestelbacher.

macaco Rhesus
camundonguinhos glow-in-the-dark

O fato é que nunca saberemos as respostas a essas dúvidas sobre Alba. O que está ao nosso alcance é fazer uma reflexão sobre as implicações éticas e morais de pesquisas que envolvem manipulação de seres vivos. Não entendo muito bem porque pouco se comenta quando uma placa de Petri contém bactérias fluorescentes, mas há toda uma mobilização social quando um camundongo glow-in-the-dark aparece na TV.

Eu não acharia ruim ter um animal fluorescente em casa. Embora de origem sintética, as camisetas, chinelos e afins já estão aí. Só falta um toque de GFP para elas ganharem mais vida.

Continuo com o Genesis, na semana que vem. 

Deixo vocês com um trecho escrito por Kac – e que traduzi para o blog - ,disponível em inglês neste endereço.

 “[...] A arte pode ser também de grande valor social. Como o domínio da arte é simbólico – mesmo quando intervém diretamente em um dado contexto -, a arte pode contribuir para revelar as implicações culturais da revolução que está por vir e oferece diversas maneiras de pensar sobre e com a biotecnologia. [...] A arte transgênica pode ajudar a ciência a reconhecer o papel de questões sobre a relação e comunicação no desenvolvimento de organismos. Pode ajudar a cultura ao desmascarar o credo popular de que o DNA é a ‘molécula chave’ que influencia o organismo como um todo e ambiente (contexto). Por último, a arte transgênica pode contribuir no campo da estética ao abrir novas dimensões pragmáticas e simbólicas da arte como a criação literal e tendo reponsabilidade pela vida.”

quarta-feira, 6 de março de 2013

Eduardo Kac e sua bioarte


Esse tweet me apresentou o artista. Não só as principais obras, mas uma pessoa com ideias e atitudes que revolucionam.

Nascido no Rio de Janeiro em 1962, se formou bacharel em artes plásticas pela PUC/RJ e fez mestrado em fine arts na The School of the ArtInstitute of Chicago, onde atua como professorassociado.

Seu trabalho envolve arte transgênica, hologramas e poemas, tudo isso com um toque bastante peculiar de polêmica e de reflexões acerca do futuro (e presente) da bioengenharia, engenharia genética e áreas afins.

Aqui segue um vídeo com uma história sobre ele, feito pelo Itaú Cultural.


Vou apresentar três das obras que me chamaram mais atenção, pela criatividade e potencial transformador. Resolvi escrever em três posts, para não termos conteúdo demais em nenhum deles – e apreciarmos a essência das obras.

O primeiro vai ser sobre a coelha Alba, que publico logo em seguida a esta apresentação sobre o Eduardo. O segundo será sobre o poema Genesis, em que ele inseriu um trecho da Bíblia no código genético (!) e o terceiro será sobre a Eudunia, um híbrido de planta (petúnia) e animal (o Eduardo!).

As referências das leituras se encontram nos links ao longo dos textos.

Espero que gostem e boa leitura!

segunda-feira, 4 de março de 2013

O alcance dos blogs de ciência - via Blog do Bruno de Pierro

Olá pessoas!

Estamos começando mais um mês e com ele vieram boas notícias :)


Hoje eu estava lendo o post do Blog do Bruno de Pierro, que fala sobre ciência,dados abertos e colaborativismo e resolvi fazer um comentário acerca do texto. O Bruno é irmão da minha amiga, estudamos todos na mesma escola e hoje ele é editor-assistente de Política Científica e Tecnológica da revista Pesquisa FAPESP e mestrando no LabJor.


E eis que o meu comentário foi elevado ao post O alcance dos blogs de ciência!


Abaixo vocês podem ler o comentário na íntegra:


Oi Bruno!


Gostei bastante do seu post, inclusive suas inquietações são algumas minhas também. Vou gostar de acompanhar sua pesquisa de mestrado para ver aonde chegamos nessa dicotomia jornalismo X cientista - se é que chegamos a algum lugar... Eu escrevi um texto recentemente falando sobrecrowdfunding e ciência colaborativa em laboratórios abertos, e penso que o seu texto apresenta um entrave à instalação desses lugares aqui no Brasil.


Ainda pensamos que o "correto" é o que vem dos grande veículos de imprensa e não de um blog sobre o assunto, ou mesmo de uma revista que tenha menos acessos. O valor dado a cada uma das produções não é o mesmo. Compartilhando uma pesquisa rápida que fiz esses dias, olhando número de seguidores no twitter e likes pelo Facebook. Aqui vai a lista, com números simplificados:

Super Interessante: 830 mil follows (twitter), 613 mil "curtir" (facebook) 

Revista Galileu: 70 mil follows (twitter), 100 mil "curtir" (facebook) 
Revista Ciência Hoje: 36 mil follows (twitter), 22,3 mil "curtir" (facebook)
Science Blogs Br: 5,1 mil follows (twitter), 36,5 mil "curtir" (facebook) 

Os números nos ajudam, de alguma forma, a tentar compreender o perfil de quem lê ciência por aqui e a pensar uma forma de divulgar conteúdo que realmente seja interessante e faça alguma diferença. E que os comentários relevantes sempre existam nos blogs!


O meu blog é polimerasedemesa.blogspot.com.br e foi criado na semana passada. 

Até!
Fiora

Pois é. Uma prova do poder de interação dos blogs - mesmo que esse recurso ainda não seja muito utilizado. Aos blogueiros: nunca subestimem o poder de alcance do texto de vocês. O Polimerase tem só uma semana e já estou recebendo bons feedbacks.


Até breve - e continuem a discussão!


Mariana